Te gosto, você me gosta

quinta-feira, 15 de maio de 2008

A Clarisse e eu

"Ela apaziguara tão bem a vida, cuidara tanto para que esta não explodisse. Mantinha tudo em serena compreensão, separava uma pessoa das outras, as roupas eram claramente feitas para serem usadas e podia-se escolher pelo jornal o filme da noite - tudo feito de modo a que um dia se seguisse ao outro. E um cego mascando goma despedaçava tudo isso. E através da piedade aparecia a Ana uma vida cheia de náusea doce, até a boca."





Quantas pessoas não vivem uma vida que para o julgamento do mundo é a vida perfeita? Com cada coisa no seu lugar, tudo sistematicamente correto e como manda o figurino? Muitas, a maioria. Vivem correndo, procurando estar sempre ocupadas para não pensar, não ver, mas um dia, quem sabe, um cego não aparece... Sim, porque as vezes é necessário que coisas banais nos abram os olhos, as vezes só um cego “mascando chicletes” será capaz de nos fazer enxergar certas coisas. Um cego, ele que não vê o mundo externo, diferente da gente, que só isso vemos e vemos muito bem por sinal, mas que não conseguimos enxergar a nós mesmo, as nossas vontades, nossas angústias e medos. Ou quem sabe uma dúzia de ovos caindo no chão? Nosso momento de luz um dia também vai acontecer, só espero que não tenhamos uma escolha tão dura quanto a de Ana para fazer.

Talvez seja esse o motivo de nos sentirmos tão mal quando lemos o Amor da Clarisse, porque o mundo... Está cheio de Anas.