Te gosto, você me gosta

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Amar demais

O amor muitas e na maioria das vezes gera dependência, comodismo, rotina. Essas palavras ditas assim, nuas e cruas, uma verdade encarada assim, sem meias palavras assusta, mas se parar e pensar não tem por que assustar já que é exatamente assim que é, e quem vive isso nem sempre se incomoda.

Amar demais é um erro, porque é amar demais que te faz depender do outro. Você ama tanto, tanto e tanto que não pensa mais no singular. Tudo o que você faz é pensando em fazer com ele, tudo que você quer é pensando se ele vai gostar, se é a sua cara, mas se é a dele também. Isso não é ruim se for recíproco, mas se não for é triste, bem triste.

Ele é tudo pra você, é seu girassol, você deseja estar com ele o máximo de tempo que puder, mesmo que pareça sufocante, para você não é, porque você ama demais e esse excessivo amor te cega a ponto de você só ver e querer isso.

Até existem momentos em que a luz parece querer iluminar essa cegueira e você tenta se erguer às próprias custas, ser mais individual, independente, auto-suficiente, mas quando se ama demais isso nunca dura tempo suficiente para se tornar concreto e aos braços dele você torna a cair. É uma doença sem cura, um câncer que se instala, com períodos de quimioterapia sem sucesso, ele sempre volta e te faz sofrer um pouquinho.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

"DAR PÉROLAS A PORCOS"


Por: Ribeira em Miramar

Descobri esta ribeira casualmente nas minhas deambulações pelas redondezes de Miramar. Resolvi encetar uma caminhada por uma das suas margens, até porque me pareceu estar preparada como zona pedonal. Não fiquei desiludido. De facto, a ribeira tinha aspecto de ter sido despoluída. As respectivas margens apresentavam-se muito limpas, não existiam plásticos agarrados aos arbustos, os agriões eram verdes e viçosos e até as rãs eram visíveis. Mas a minha admiração não se ficou por aqui. A uma distância razoável do início do meu percurso, (talvez cem metros) entrevi um departamento do ambiente da C. M. de Gaia, em edifício de construção recente. Naquele local ainda mais surpreendido fiquei porque, em pavimento devidamente preparado, encontrava-se um conjunto escultórico, que pelo seu tema e localização, muito admirei. Tratava-se de uns bronzes representando um pescador de “loura” acompanhado de uma criança, regressando da pesca, e munidos dos respectivos apetrechos. Aliás, no recinto existiam mais motivos em pequeno formato, tais como um menino a pescar, uma cegonha, e outros do mesmo material do principal. Aproveitei para fazer umas fotos e continuei o meu passeio admirando a água límpida e a vegetação tão luxuriante.

Meses mais tarde, já em fins de Outono, e porque passava perto, decidi voltar a visitar o sítio, desta feita para fotografar novamente as esculturas, dado que a iluminação era mais favorável do que na vez anterior. Foi uma desilusão completa. As águas límpidas estavam tingidas de vermelho, do grupo de esculturas já faltava uma, a cegonha, que tinha sinais de ter sido partida junto à base. Os funcionários do departamento do ambiente olhavam a ribeira com ar de desiludidos, agarrados aos telemóveis a ligarem não sei para quem. Pareceu-me que estavam a tentar detectar donde vinha a poluição. Em fim, depois de fazer os “bonecos”, vim embora chateado, e pensei logo num amigo meu que perante situações destas costuma dizer; “Fazer algo por este povo, muitas das vezes, é dar pérolas a porcos”.

Obs. Acho que os rios deviam ter o seu nome assinalados em placas, tal como as ruas, para que pudéssemos identificá-los. Assim saberia dizer o nome da referida ribeira.